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terça-feira, 20 de agosto de 2013

Contra a violência, manifesto mobiliza 27 mil pessoas na Zona Metropolitana do Recife


Pernambuco é o 5º estado mais violento do Brasil, segundo a pesquisa Mapa da Violência, com dados do DataSUS, divulgada no primeiro semestre de 2013. Só no ano passado, 207 mulheres foram assassinadas vítima de violência doméstica e familiar no Estado (dados da Secretaria da Mulher – Governo Estadual). É visando o combate dos diferentes tipos de violência, que no próximo sábado, 24, acontece o dia “D” Quebrando o Silêncio em toda a América do Sul. A campanha, realizada pela Igreja Adventista, deve levar as ruas da região metropolitana do Recife 27 mil fiéis, distribuídos em passeatas, ações comunitárias, projetos sociais e educativos. Além do manifesto popular, o grupo deve distribuir 90 mil revistas e folhetos explicativos sobre a violência e suas consequências.

No bairro do Arruda é esperado um público de mil manifestantes, dentre eles, fiéis, clubes de desbravadores e aventureiros (um tipo de escoteirismo), e alunos da Rede Adventista de Ensino, que na Zona Metropolitana conta com duas unidades. O grupo parte para uma passeata a partir das 15 horas deste sábado, 24. Os fiéis devem distribuir revistas, panfletos e livros, que falam sobre violência e esperança. Os evangélicos contam com o apoio das Escolas Públicas Nilo Coelho e Rosa Guimarães, que participam da passeata com um pelotão de alunos e uma banda marcial mista. O percurso de 2,5km parte da rua Zeferino Agra, 267, nas proximidades do estádio do Arruda, segue pela Avenida Beberibe, e tem como chegada o mesmo ponto de partida, o que deve acontecer próximo as 17h.

Manifestos semelhantes acontecem em toda capital e Zona Metropolitana. No bairro de Mustardinha, uma passeata deve mobilizar a comunidade. O mesmo acontece em Boa Viagem, Guabiraba, Olinda, Abreu e Lima e Jaboatão dos Guararapes. Na Zona da Mata, passeatas e palestras devem se espalhar pelo centro das cidades de Paudalho, Buenos Aires, Nazaré da Mata e São Lourenço da Mata.

Ações contra a violência fazem prévia ao dia “D”
Mesmo antes do sábado, quando os manifestos serão repercutidos em toda a América do Sul, haverá diferentes tipos de mobilizações. Na próxima quinta-feira, 22, a partir das 9h, uma palestra sobre os efeitos da violência será realizada na Secretaria de Defesa Social do Estado. Entre as palestrantes, a líder sul-americana do projeto Quebrando o Silêncio, Williane Marroni, marca presença. “O nosso objetivo é esclarecer esse público que lida diretamente com a violência sobre a importância de nos mobilizarmos não apenas nas denúncias, após a violência já ter invadido as nossas vidas, mas antes disso também. Nosso movimento é de combate, mas também é de prevenção”, comenta a professora Cláudia Oliveira, líder da campanha para a Zona Metropolitana do Recife.

Durante toda a semana, diariamente os alunos da Rede Adventista de Educação na Grande Recife participam de atividades com o foco no combate a violência. Segundo a psicóloga da instituição, Divânia Bezerra, o objetivo é esclarecer a cada dia sobre um tipo diferente de agressão, as consequências e tratamento que devem ser dados em cada caso: “O projeto ‘A violência dói, a paz contrói’, visa esse esclarecimento dentro de sala de aula e em momentos de vivência dos alunos. Todos os dias, diferentes temáticas, como: abuso, exploração, e casos que geram preconceito e agressão, como as dificuldades físicas e mentais, diferenças sociais e de cada indivíduo para com o outro”, explica.

A campanha
Em toda a América do Sul, a campanha mobiliza fiéis em manifestos, passeatas, ações comunitárias e educativas. A campanha Quebrando o Silêncio acontece todos os anos desde 2002, em toda a América do Sul. O projeto conta com uma revista personalizada que, anualmente, foca em um tipo de violência, embora, internamente, seja abrangente. Em 2013, o tema é “Perigos em rede”. Segundo a organizadora da campanha, entre os objetivos, estão: “Conscientizar a população em geral, em particular, as crianças, mulheres e idosos sobre a importância de pôr um basta a violência. Coibir abusadores. Resgatar valores cristãos do amor e respeito ao próximo”, acresce Williane.

Saiba como interagir
As ações do Quebrando o Silêncio serão publicadas com ênfase por uma equipe de comunicadores voluntários que está empenhada em captar todas as informações. Para assessorar a divulgação, a iniciativa contará com um site específico para divulgação de notícias: http://novotemporecife.com, além das redes sociais que tornarão o movimento do Quebrando o Silêncio amplamente conhecido.

Todas as congregações adventistas que realizarão o Quebrando o Silêncio também poderão enviar informações e imagens sobre as ações realizadas em suas comunidades. Todo o conteúdo o conteúdo será divulgado.

Os que desejarem enviar informações podem usar os canais de comunicação abaixo:

E-MAIL: contato@novotemporecife.com / iasdape@gmail.com  
Usar a hastag #quebrandoosilencio

Para reforçar a divulgação realizada na internet, será realizado no dia 23 de agosto, às 20h, um especial ao vivo na Rádio Dimensão 104,5 FM, podendo também ser ouvido pela internet (http://novotemporecife.com) com a ênfase no Quebrando o Silêncio. Na ocasião participarão do debate, as coordenadoras do Quebrando o Silêncio para a Região Metropolitana do Recife, Claudia Santos; a coordenadora para seis estados do Nordeste, Rosário Costa; a coordenadora sul-americana, Williane Marroni e o pastor Josimar Martins, responsável pela Igreja Adventista no bairro de Cavaleiro, em Jaboatão dos Guararapes. 


(com reportagens de Rebbeca Ricarte e Ariston Júnior)

Doenças do século 19 ainda são desafios para a saúde pública


O mesmo Sistema Único de Saúde (SUS) que fez mais de 22 mil cirurgias de transplantes de órgão e lida diariamente com doenças relacionadas a um novo estilo de vida imposto pela modernidade do século 21 - corrido e ao mesmo tempo sedentário -, ainda precisa prestar atendimento a pessoas com enfermidades que se expandiram desde o século 19. De acordo com a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Tânia Araújo Jorge, as chamadas “doenças negligenciadas” têm um determinante social muito forte e suas sequelas alimentam o círculo da pobreza.

“Renda, condições de educação, de saneamento e água influenciam bastante na permanência dessas doenças, por isso são consideradas doenças relacionadas à pobreza”, explica Tânia. As doenças negligenciadas consideradas prioritárias pelo governo federal são dengue, doença de Chagas, leishmaniose, malária, esquistossomose, hanseníase e tuberculose. A pesquisadora destaca que outra característica desses males é que, de forma geral, são negligenciados pela indústria farmacêutica global. “Não tem interesse em investimento de pesquisa para geração de vacina, de medicamentos, porque é um mercado pobre, a atividade econômica não dá sustentação para um mercado global” avaliou.

Tânia Araújo acrescenta ainda que outro componente que contribui para a permanência dessas doenças na agenda do governo é a omissão da rede pública de saúde na atenção a essas populações. “Muitas vezes você tem o medicamento, mas o serviço de saúde não propicia o acesso às soluções já conhecidas”, diz.

A pesquisadora ressaltou que não adianta ter apenas um planejamento do governo federal, “tem que haver ação na ponta. A articulação entre os entes federal, estaduais e municipais é muito importante”. Para ela, as políticas voltadas para a as doenças negligenciadas são tratadas como política de governo e não de Estado, e por isso é muito comum que sejam suspensas a cada troca de governo.

“Esse tema não deve sair da agenda política, ele está muito presente na agenda dos cientistas, mas isso por si só não é o suficiente. Os resultados das pesquisas têm que ser colocado na agenda política do país” frisou Tânia, acrescentando que o investimento em educação é fundamental.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2012 foram registrados mais de 33 mil novos casos de hanseníase, considerada uma das doenças mais antigas que acometem o homem e que tem cura. Os estados de Mato Grosso, Maranhão e do Tocantins apresentaram em 2012 alta incidência da doença, enquanto todos os estados da Região Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, na Região Sudeste, somados ao Rio Grande do Norte, no Nordeste, alcançaram a meta de eliminação da hanseníase como problema de saúde pública.

A pesquisadora explicou que com o avanço das pesquisas na saúde a letalidade das doenças negligenciadas diminuiu em relação à do século 19, porém, a convivência prolongada com elas traz mais morbidades. “A mortalidade hoje no Brasil é muito mais causada por doenças cardiovasculares, câncer, doenças crônicas. Essas doenças infecciosas da pobreza conseguem ser controladas, menos de 5% da população morrem em consequência delas. No entanto, elas são muito frequentes, em crianças atrapalham o rendimento escolar, atrapalham o crescimento, em adultos atrapalham a inserção no mercado de trabalho, de forma que sustenta um círculo que mantém a pobreza” diz a especialista.

Ao mesmo tempo em que o SUS precisa lidar com essas doenças, aumenta o número de pessoas acometidas por males intimamente relacionados ao ritmo de vida mais acelerado, às cobranças e ao sedentarismo, cada vez mais comuns na vida de quem vive nas metrópoles. “Obesidade, hipertensão arterial, diabetes mellitus, depressão, problemas de tireoide, dor nas costas, doenças ocupacionais, são as doenças que mais atormentam a sociedade moderna”, avalia Samira Layaun, médica especialista em medicina preventiva e consultora de saúde e qualidade de vida.

Na avaliação da especialista, falta estrutura e investimento em saúde pública para atender à demanda ocasionada por essas doenças. Mesmo figurando em agendas de saúde tão distintas, tanto as doenças negligenciadas como as ditas “da vida moderna” precisam de investimento maciço em educação.

“O governo deveria investir mais em campanhas educativas e ações que estimulem as pessoas a adotar bons hábitos alimentares, de sono, exercícios, entre outros. De outro lado, as pessoas deveriam aderir a esses bons hábitos. Procurar alimentar-se e hidratar-se corretamente, dormir, no mínimo, oito horas por noite, praticar exercícios com regularidade, manter o peso e o estresse sob controle, ficar longe do cigarro, do álcool, das drogas, praticar boas ações e nutrir bons sentimentos. São práticas que colaboram tanto na prevenção como no tratamento das doenças da vida moderna”, reforçou Samira à Agência Brasil.


Fonte: Agência Brasil

Quem se omite abusa também


Por Fabiana Bertotti

Saiu no noticiário. Um juiz da Vara da Infância em Pernambuco resolveu analisar os crimes contra criança que tinha nos arquivos, para ter um retrato mais preciso desta barbaridade que continua acontecendo dentro de muitas casas. Nenhuma grande novidade, só mais terror. Dos processos iniciados, 85% foram denúncias que partiram da família. Das vítimas infantis 58% sofriam maus tratos e 42% abuso sexual. Destas, a maioria não tinha mais que 13 anos e 98% eram meninas. A violência acontece na casa da criança em 29% dos casos e na casa do agressor em 35% deles que, aliás, só usa arma em 4% dos casos, pois em 95% consegue com convencimento e ameaça. Isto porque 91% dos agressores são próximos da família, são homens entre 17 e 25 anos com emprego, alfabetizados e sem antecedentes criminais.

Chocante mesmo é pensar que só 13% são presos em flagrante e apenas 9% ficam presos no final do processo. Até mesmo para um juiz experiente como o doutor Luiz Rocha, as estatísticas espantaram. Espantam mesmo porque o maior abuso que se comete com uma criança é o desprezo e a ignorância. É isto que estes números revelam em maior grau. Deixando de lado um pouco a minoria e focado na ampla maioria dos dados, vê-se meninas em casa ou na casa de conhecidos (parentes, amigos dos pais, vizinhos) que as abusam, estupram usando de violência, ameaçam sua vida ou a dos pais e as fazem crer que foi tudo culpa delas. No outro lado temos pais, sobretudo mães que não notam as diferenças nítidas que suas filhas apresentam. Sim, toda criança abusada tem desvios de comportamento claramente demonstrado para o olhar atento!

De repente a criança chora sem motivo, não quer mais ir com o tio ou na casa do vizinho, tem tremores ao se ver nua, pequenos sangramentos na calcinha, pesadelos, perda ou aumento repentino no apetite, alteração na escola e ninguém nota? Como assim? São os pais, os irmãos, os parentes… ninguém presta atenção a este serzinho que agora se mostra diferente, ou talvez mais retraído? Na maioria das casas há isolamento, crítica, zombaria ou castigos, mas não há conversa e investigação. Não se quer olhar e admitir que uma monstruosidade deste porte pode ter acontecido ou estar acontecendo dentro da sua casa, no quarto ao lado, na casa do seu irmão, cunhado, tio…

Então, como explicar isto para a criança que geme de dor no seio da sua família? Que sussurra no silêncio escuro, clamando por resgate, por socorro, sem entender o que é aquilo que se passa com ela? Dizer que você não averiguou porque não se sentiu confortável? Que você que deveria protegê-la não quis se incomodar com uma briga de família? Como explicar pra ela a diferença entre você, mãe, tia, prima, irmã e o agressor que a estupra periodicamente? Um faz, o outro esconde, vira o rosto, ignora. E isto não é abuso também?


Fabiana Bertotti é jornalista.